Mudanças Radicais - Lista de livros da coletânea

Bem vindo a apresentação de um grande universo que estou escrevendo há muitos anos. Um mundo diferente, com histórias comoventes, impactante...

domingo, 30 de julho de 2023

Don & Serentina - Capítulo 2 - Ceifando a história


Ceifando a história


Começa comigo um dia jogando um lingote simples como outros que tinham em seu chapéu no meio das músicas que cantava.
Eu queria mesmo saber sobre a história e pensava que ele poderia me dar uma resposta melhor do que já tinha pesquisado em outros cantos que fui.
Ao saber onde senta, já que ele tinha o mesmo hábito em todas as noites que vinha ao bar, sentei do lado que era costume ele se sentar.
 
Ao terminar o triste show para dar lugar a um grupo de mulheres que iriam tentar ter trocado em troca de dançar mais alegremente para os homens do local, ele veio e sentou ao meu lado.
Pediu dosljlov, uma bebida barata, feita à base de leite de derdose, que nem sei o que era, se era animal ou planta.
Só que era algo barato, fedido e pungente.
Não bebia, não tinha coragem de experimentar.
Preferia algo diferente e de melhor sabor.
 
O barman, que é um homem alto, meio gordo, com a barba sempre por fazer e incrivelmente era calvo, por gostar de ser meio careca o serviu e ele contou o que ganhou nessa noite.
Quando ia pagar pela bebida, joguei na frente dele um lingote falando.
Eu pago essa e algo melhor se fizer companhia para mim.
 
Não sou puto.
 
Ele se levantou empurrando o lingote na minha direção.
Na mesma hora eu respondi.
 
Nem procuro por isso nesse local. 
Se procurasse, seriam aquelas gostosas do palco ou iria a um puteiro atrás de mulher.
Só quero informações, curiosidades por causa do que canta.
 
Ele olha para o lado e meio parecendo inconformado com o que decidiu, volta para o local sentando com os cotovelos no balcão.
Olhando para ele, pergunta, segurando o chapéu com os trocados na mão.
 
O que quer saber? Quer que eu passe as letras?
 
Quero saber da história por trás dela.
 
Por quê?
 
Por que eu já ouvi em vários lugares que vaguei e ainda vago até hoje, quando vou visitar os meus parentes em um canto longe daqui.
Só achei curioso que tantos lugares cantam algo igual ou bem parecido.
Como é o único que não tem um sorriso no final ao olhar o chapéu e ver que deu lucros para uma boa noite e quem sabe até mesmo um bom dia…
 
Fala bem para um estrangeiro.
 
Não é por que sou vagante que tenho que falar mal.
Leio muito e quando carno, aproveito para cutucar para ir a escolas e assim sempre mantenho a minha fala em dia.
Assim aqui, sempre tenho a língua afiada e me dou muito bem nos negócios, ainda mais quando vago com a minha esposa para visitarmos os nossos parentes e filhos.
 
Sábio de sua parte. Muito sábio, meu pai sempre dizia isso de mim.
 
Entendo. Quer ganhar mais um lingote e um bom para dar uns dias de paz, em troca de me falar sobre a história por trás dessa música?
 
Ele acenou que sim e pediu mais uma bebida.
Pelo que eu já tinha pagado, pediu algo bem forte, tomou a dose e contou a história, sempre deixando claro que ouviu
por aí.
Falou mais ou menos como conseguiu as músicas, deu uma desculpa qualquer para justificar por que era um homem triste e seguiu o seu caminho, comigo dando mais alguns lingotes.
 
O barman o vendo ir embora, diz com a sua voz costumeiramente rouca de tanto fumar.
 
Pobre homem. Pobre homem. Preso aqui por causa de uma mulher…
 
O conhece?
 
Ele olha para a minha bolsa e de lá tiro um lingote e dou.
 
Não pessoalmente.
Mas sabe como anda as histórias pelo meu balcão e bar…
 
Ele aponta para as mulheres e entendi a fonte.
 
O que sabe dele?
 
Por que quer saber?
 
Eu preciso de moeda de troca por aí.
A música é boa e não quero problemas.
 
Ele era um homem rico. 
Não sei se como aqueles milionários que vivem longe daqui que pode passar eras vagando de férias que dinheiro não é
problema, diferente do senhor e de cada visitante que tenho aqui no meu bar hoje.
Sendo que era mesmo rico.
 
Veio para cá algumas vezes antes de estar como vê.
Sendo que não veio aqui no começo, mas na parte alta da cidade. 
Veio procurando algo, uma mulher talvez.
 
Seria alguém da familia dele?
 
Sua família, eu não sei…
Sei que era rico. Até que há uns 300 anos para cá pedindo emprego de servente por uns dias, para ter dinheiro para
vagar.
Falei do que faço para ajudar as pessoas e ele se inscreveu.
Ficou uns dias cantando o que ouve e depois sumiu, apareceu, sumiu e faz um tempo que fica vindo quase todos os dias para cantar a mesma coisa, pedir a mesma bebida e ir ao mesmo albergue descansar.
Acorda, fica vagando pela cidade, ainda mais na parte alta e rica, volta, tem dias que vem a fome e por isso ele come algo em um bar vagabundo e vem para cá fazer a mesma coisa.
 
Com o que ganha, o que acha que ele quer?
 
Ficar rico à custa dos outros vivendo como mendigo ou juntando mais grana para vagar para mais longe. 
Um mais longe que das últimas vezes que vi aqui pela última vez.
 
Como sabe tanto da vida dele? Não parece ser um homem de muitas palavras, tão pouco de ter amigos por aí.
 
Homens precisam de sexo às vezes.
Se não carna para ter uma mulher, uma família, torra com as prostitutas, ou mulheres como elas que tem que levar um certo dinheiro para casa todos os dias ou apanham de seus maridos ou família.
 
Triste vida.
 
Triste história, mas aqui.
Quem não tem?
 
Exatamente, quem não tem.
 
Vamos lá, por uma bebida.
Por que de fato se interessou pelo rapaz?
 
Me interessei pela história.
 
Por quê?
 
O que aprendi nessa vida de vagante, é que se em muitos lugares a mesma história é repetida, tem chance de ganharmos uma fortuna se achamos o que eles procuram.
Alguém procura uma mulher.
Quem sabe não tem uma recompensa por aí se eu souber quem procura e tiver algum dado.
 
Esperto. É dos espertos, valeu o investimento com o rapaz?
 
Nada. A história que ele contou foi uma comum que ouvi em outros lugares.
 
Achava que com ele teria algo especial?
 
Pelo olhar triste e a forma triste que cantava, achava que ele era o dono da canção.
 
Não é?
 
Não. 
E se for, perdeu muito dinheiro em não gravar e tocar nas mídias.
As pessoas de certa forma gostam dela.
 
Eu concordo. 
Escuto há anos, mais vidas do que gostaria e o povo sempre gosta de cantar, ainda mais os novatos.
Eu se fosse ele, vagava para um canto parecido com aqui, vendia a música e voltava a ficar rico com isso.
Mentia mesmo que ele criou a música.
Com aquele olhar triste, quem iria desconfiar que seja uma mentira?
 
Ninguém. Eu compraria e faria fortuna.
 
Eu também.
 
Por curiosidade. Por que acha que ele está aqui preso por causa de uma mulher?
 
É o que eu escuto por aí.
Que estava atrás de uma fugida e perdeu a fortuna por causa disso.
 
Ah. Tem que ter cuidado com as mulheres, ou elas nos deixam pelados.
 
Eu concordo, eu concordo. 
Eu tenho a minha e a mantenho trancada, pois se deixar solta, gasta todas as nossas parcas economias.
Mais alguma coisa que queira saber, estrangeiro de nomeee?
 
Neodímio, filho de um pobre James e de sua pobre esposa Jessie.
 
Seus pais não trabalham em nada?
 
Meus pais estão desaparecidos, desde que o local que morávamos juntos foi atacado.
Sumiram como muitas pessoas do local que vivíamos e agora não existe mais.
 
Os procura desde então?
 
Já desisti de procurar os meus pais.
 
Muitas vidas se passaram, estrangeiro de pais pobres?
 
Mais do que eu deveria usar para os achar.
 
Tem um cara aqui que é bom em achar pais desaparecidos, se ainda os procura.
Quer que eu apresente?
 
Eles foram engolidos por um portal sugador junto com os seus gatis.
Esse cara sabe caçar portais sugadores?
 
Não tem quem possa seguir esses malditos portais.
Meus pêsames pelos seus pais e que a vida possa sorrir, os devolvendo pelos mesmos malditos portais.
 
Que alguém te ouça. Pois só me resta esse caminho.
 
Agora vamos falar de alegrias, pois um bar triste é um bar com prejuízo.
Quer uma dose?
 
Além do que me ofereceu, vou querer mais uma do que já me serviu que me vou encontrar com a minha mulher antes que não tenha mais dinheiro para pagar as contas.
 
Está certo com isso. Elas não sabem ver os limites, só comprar, comprar e comprar.
 
Bebi mais uma dose, fingi que bebi a que me deu de presente.
Paguei, sai do local como qualquer outra pessoa meio bêbada, apesar de não estar nesse estado pelo que de fato bebi e fui me encontrar com a Lorena no hotel que estávamos dessa vez.
Ela me mostrou as compras, as dicas do que seria melhor ter para usar em certos lugares e eu contei sobre o encontro
de hoje, que rendeu a história que agora sim, vou contar para você, caro leitor.

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